Friday, October 30, 2009

Emergindo

E aproveitando para testar o Bloggy.

Os últimos meses foram de longe os mais dolorosos por que já passei. Coração partido, desilusões dos piores tipos, traição e abandono. Esse período compete de perto com o meu segundo colegial na lista das piores épocas da minha vida.

O que sai desse turbilhão eu ainda não sei definir, mas definitivamente não é o mesmo que entrou. Boa parte está perdida para sempre, como o meu otimismo em relação a pessoas e o meu deslumbramento com a vida. Alguns chamam isso de amadurecimento. Para mim são cicatrizes.

Por outro lado, estou reencontrando muito do que de outra forma teria se perdido. Relembrei do gosto de sentar por horas a fio no piano, tocando até as costas doerem. Resgatei amizades antigas, antes desgastadas pelo afastamento ou por razões ou influências só compreendidas agora.

E houve o aprendizado. O que começou apenas como um exercício de autocontrole evoluiu para uma apreciação da efemeridade das coisas. Tudo passa. Planos de longo prazo acabam se tornando fontes de ansiedade e dor. É uma sensação estranhamente libertadora não fazer planos. O difícil é encontrar um meio-termo.

No fim das contas, nada do que falamos sobre dificuldades em relacionamentos realmente procede até que de fato tenhamos passado por elas.

Trilha sonora: Opeth - Coil

Saturday, June 27, 2009

On supporting characters

I used to think nobody wants to be on the sides of life. Marginally connected to the big picture, these people would be condemned to an endless uninteresting life of wondering "what if". None of whom will ever be remembered in 200 years. I used to fear becoming one of them.

I had a discussion on this subject with some friends a while ago, and it ended up on the role a person's upbringing plays in their development. By that time, I hadn't yet fully realized the importance of this relationship. I still maintain, however, that this alone is not enough, but it is crucial for that matter. In any case, it all revolved around one simple premise: everyone is meant to do great things.

But are they?

Sometimes a person's potential lies exactly on the small, unnoticed, supporting actions for someone else's everyday life. A loving and caring housewife, an insightful bartender, a friend's shoulders on which to cry. Where would be the great men and women of all times without them?

Maybe the inherent unhappiness of these modern days lies just on this imperative must-win, no-fail, fast-paced craziness we burdened upon ourselves. Maybe our lives are actually smaller than what we estimate of them. Maybe we give it up on the wrong times because we are frightened of failure.

Who knows what we would be capable of if we just let ourselves free of this anticipation? Instead of burying ourselves in a pointless anxiety over success and growth, what if we just let life go and do our best with it? Perhaps this is an answer to someone out there. Perhaps it's just another source of affliction.

Anyway, it doesn't hurt to think about it.

Wednesday, May 27, 2009

Eu tive um sonho

Não, não é mais um discurso ideológico. Abaixo, a narrativa de um sonho muito curioso (e satisfatório) que tive essa noite.

Sala de estudos, tarde da noite, empacotando minhas coisas para ir embora. Me despeço dos amigos que ainda continuam por lá e vou para o meu carro. No caminho, em frente à entrada da Ala Central, me deparo com uma aglomeração de alunos se preparando para armar o piquete em frente à biblioteca.

Dessa vez, eles não se contentam em bloquear a entrada com sofás velhos ou cadeiras tiradas das salas de aula, mas trazem sacos de cimento para empilhá-los na porta! Pelo menos os sacos parecem de cimento, mas poderia ser qualquer outro pó. Ignoro a turba e continuo indo para o meu carro.

Ao chegar ao estacionamento, não encontro o carro. Penso que me esqueci de onde o deixei, e começo a sondá-lo com o controle remoto do alarme. Olho ao redor procurando a luz âmbar do pisca-alerta, e, para a minha surpresa, a encontro vindo de uma caminhonete estacionada em uma não-vaga.

Curioso, me aproximo da caminhonete e aperto o botão para desligar o alarme. E, de fato, ela me manda o bip-bip de que o alarme está desligado. Sem reparar em ninguém ao redor, abro a porta e não vejo nada de incomum, exceto que essa caminhonete enorme está com o meu alarme instalado nela e meu carro está desaparecido.

Ponho-me a calcular a probabilidade de terem codificado um outro alarme com a mesma combinação que o meu, e logo concluo que meu carro fora roubado e desmanchado, e as peças, espalhadas.

Aqui, meu subconsciente faz uma pausa dramática; me encontro no mesmo lugar, só que já amanheceu, a caminhonete não está mais lá, e no estacionamento da Física se forma o que parece uma manifestação de alunos em favor da greve. Estão todos esperando alguma coisa.

Alguns policiais estão posicionados por ali, caso a coisa esquente. Me dirijo a um deles, que parece ter mais de dois metros de altura, e comunico que meu carro fora furtado na noite anterior. Explico a ele que uma caminhonete parecia estar equipada com o meu alarme, e no fim do meu relato o policial só diz lentamente "Excelente", com uma cara de satisfação. Ele me encaminha a outro policial que me leva a um local elevado ali perto. Provavelmente o alto do Morro da Coruja, mas meu subconsciente fez mais uma vez uma intervenção dramática e o pôs no lugar do laboratório de ressonância magnética, para me dar uma visão melhor do que aconteceria em seguida.

Olhando ali do alto, de tocaia, vejo a tal caminhonete chegando, carregada de mais sacos de cimento. Quando os alunos que estavam ao redor vão em direção a ela para descarregá-los, eu aperto o botão do alarme e a caminhonete apita. Esse é o sinal que os policiais que ficaram embaixo, assumindo posições estratégicas, estavam esperando.

Imediatamente, eles sacam as armas e dão a ordem de prisão. Um conflito se segue, com muitas borrachadas e gás lacrimogênio. Gritos de "Opressão!", "Fora a PM do Campus!", "Isso não representa o coletivo dos estudantes!" são rapidamente obscurecidos por fumaça e pancadaria. Desço do morro e observo, satisfeito. Daí me pergunto, "mas e o meu carro?".

E então, acordei. Em parte, aliviado por ter sido um sonho. Em parte, decepcionado.

Saturday, May 09, 2009

Star Trek: Reboot?

Ontem, hoje, e por algum tempo ainda, em uma sala de cinema perto de você, um fanboy está morrendo do coração. Eu, como todo bom trekkie, assisti o filme o mais rápido que pude.

Aqui vão as minhas impressões sobre o filme, e seu impacto sobre a série. Aviso: Contém spoilers!

O filme faz com o universo de Jornada aquilo que já estava se mostrando necessário havia muito tempo, mas que ninguém queria admitir. A série precisava de um reboot para continuar viva. Depois do final de Star Trek: Voyager, não restaram mais grandes "vilões" na galáxia: O Dominion não era mais uma ameaça, os Borgs foram praticamente exterminados, e os inimigos clássicos (romulanos, klingons, etc.) já estavam suficientemente encaminhados para se tornarem amiguinhos.

Além disso, a menos dos cantos mais longínquos do quadrante Gama, a galáxia já estava quase que totalmente mapeada e explorada. O problema disso é que com toda a Via Láctea conhecida não restava mais nenhum potencial de exploração, porque a primeira coisa que é determinada no universo de Star Trek é que não é possível sair da galáxia. Ou seja, com tudo conhecido, e com as distâncias diminuindo pela tecnolgia de dobra, logo a coisa iria descambar para a geopolítica (ou seria galactopolítica?) de Star Wars. Eventualmente, a Federação iria encompassar toda a galáxia, e todos viveriam felizes para sempre, até Andrômeda bater na gente e os exploradores voltarem a ter assunto.

Sem falar no engessamento por que estava passando o cenário, o que é perfeitamente cabível numa série de mais de 40 anos. Não havia mais espaço para novidades, pois qualquer coisa nova que fosse inserida inevitavelmente traria problemas para o cânon (veja as três primeiras temporadas de Star Trek: Enterprise).

O novo filme resolve todos esses problemas de uma maneira elegante (mesmo que drástica): Uma viagem no tempo, argumento usado a rodo pelos roteiristas de Voyager, só que dessa vez com consequências irreversíveis no passado. Pronto. Uma realidade alternativa, e tudo é novo, e a alegria volta ao mundo de novo. Reboot. Todos os eventos podem acontecer de novo: Khan pode ou não ser encontrado à deriva na SS Botany Bay, a lua dos klingons pode ou não explodir, os romulanos podem ou não violar a zona neutra, os fundadores podem ou não fundar o Dominion, os Borgs podem ficar muito tempo sem saber da existência da Federação. Nada mais precisa acontecer de novo. O cânon está livre. Diabos, eles até podem sair da galáxia se quiserem.

À parte o impacto sobre a série, o filme é muito bom, por seus próprios méritos. Não tem muito a ver com a premissa original de Star Trek, mas esse desvio era necessário. Chega de efeitos especias patéticos por causa de um orçamento igualmente patético. As atuações são brilhantes: claramente estão desperdiçando o talento de Zachary Quinto em Heroes. O filme é bem dirigido e bem amarrado, apesar de se passar o tempo todo num ritmo alucinante. Enfim, um excelente filme de ação. Do ponto de vista do trekkie babão, o filme me agradou o tempo todo. Ele é tão permeado de citações e referências ao universo de Jornada que eu passei toda a sessão rindo por reconhecer as piadas.

No geral, eu recomendo a todos, fãs ou não, assistir esse filme. Os caras capricharam dessa vez.

Tuesday, January 06, 2009

Digressão cataclísmica

Tenho uma coleção infindável de assuntos sobre que me dá vontade de resmungar de vez em quando. Nesse fim de ano, alguns me vieram à tona.

É curioso como nas semanas antes do Natal o trânsito em São Paulo estava caótico. O Natal é um feriado religioso. Todos falam do "espírito do Natal", da tolerância, da alegria, da paz. E saem pelas ruas fazendo todo tipo de barbaridades. No jornal hoje à tarde vi os dados de acidentes nas estradas por causa do feriado. Masmo com a lei seca, os acidentes aumentaram no Brasil inteiro. Nas estradas federais, foram quase 200 mortes entre dias 21 e 25. Isso é metade do que morreram de terroristas do Hamas até ontem durante a invasão da Faixa de Gaza. E ainda falam que é tempo de paz.

E isso me leva a outro ponto de irritação: a porra da questão palestina. Há vários dias, vejo na primeira página da Folha de S. Paulo fotos dramáticas de criancinhas chorando, enormes e condenantes. Vejo comentários na TV por causa da "reação desproporcional", vejo o imbecil do secretário-geral da ONU querendo mandar os israelenses de volta com o rabo entre as pernas e Qassams na cabeça, e enquanto isso um de meus melhores amigos está lá de fato com sua cidade tomando mísseis. Essa hipocrisia me enoja. Os caras têm a obrigação de defender o país e a população deles, e se isso significa invadir a porra da faixa de Gaza e descer o cacete nos terroristas covardes que se escondem atrás de inocentes, que assim seja. E o sangue dos civis palestinos está na mão do Hamas, que está pouco se fodendo pra eles.

E por falar em hipocrisia, tem o sempre crescente desprezo que tenho por este país. Mas as razões para isso são muitas, e isso pertence a outro(s) post(s). O que me fez pensar mais durante o feriado foi a estupidez da espécie humana como um todo.

No fim de 2007 saiu o relatório do IPCC. Basicamente, estamos fodidos. Sob todas as perspectivas, mesmo as mais otimistas. E a culpa é nossa. Em 2008 ouviu-se muito falar de aquecimento global, Groenlândia, geleiras, furacões, chuvas, etc. E o que está sendo feito a respeito é uma série de medidas quase inócuas, cada uma sendo aprovada somente depois de discussões intermináveis e brigas fenomenais. Cacete. Em um ponto nós todos deveríamos concordar: Só tem UMA Terra. E ela está na merda. Mas aparentemente, encher o rabo de dinheiro com hipotecas podres enquanto se dirige sua SUV cheia de sacolas plásticas de supermercado é muito mais interessante.

Mas chega de resmungar. Vou comprar um sofá.